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Não há paz sem justiça

  • Arquidiocese de BH
  • 20 de jan. de 2018
  • 3 min de leitura

Esta é uma verdade que deve inspirar os horizontes do povo brasileiro na construção de uma nova ordem social, econômica e política para se alcançar a paz: não há paz sem justiça. Sem esse entendimento, haverá um recrudescimento das diferentes formas de violência. A sociedade se transformará em um campo de guerras, de todo tipo, corroendo, cada vez mais, as riquezas do tecido cultural e histórico que caracterizam o país. A nova ordem a ser buscada exige o fim da inaceitável situação de injustiça que se escancara na forma de desigualdades sociais, se desdobrando em miséria, desemprego e indiferença com os que sofrem.

Conviver com a desigualdade social e tantos outros males, que são frutos da injustiça, é particularmente vergonhoso para uma nação que tem “recursos de sobra”, bem mais que o suficiente para edificar e manter uma sociedade justa. Diante de tantas possibilidades, percebe-se que a grave situação atual, de desigualdade, não é “obra do acaso”. As análises históricas mostram que é opção deliberada, emoldurada pela incompetência de muitas pessoas. E o resultado é a injustiça que compromete a paz.

Assim, eis a tarefa ética que é da Igreja e de todos os que vivem os compromissos da fé: cada pessoa precisa guiar a própria vida a partir dos ensinamentos de Jesus Cristo com a urgente e laboriosa missão de não se omitir diante dos problemas sociopolíticos atuais. A desigualdade social e outros males evidenciam a carência generalizada de iluminação ética. Por isso, muito além de interesses partidários e grupais, o que deve ser priorizada é a dimensão ético-moral. Cuide-se, assim, para que igrejas não se tornem instrumentos para ações de partidos políticos. Em vez disso, devem contribuir substantivamente para as indispensáveis transformações necessárias neste momento.

A Igreja é desafiada, sempre à luz de princípios do Evangelho, a auxiliar os diferentes segmentos sociais na adoção de critérios mais consistentes na elaboração de planejamentos, iniciativas e reformas. Daí a necessidade de debates, reflexões, para qualificar projetos e possibilitar escolhas inteligentes, capazes de impulsionar a sociedade rumo a um futuro melhor. A história mostra que não é possível avançar quando se tem apenas propostas demagógicas, como tantas que já induziram a população a opções ruinosas. Por isso, temas de reconhecida importância para o país precisam ser debatidos, com abertura, para alcançar entendimentos, a partir da participação de todos.

Esse exigente e complexo processo requer um sentido pleno de justiça, alcançado a partir da conduta cidadã que deve nortear cada pessoa, em todas as instâncias – de governos e parlamentos ao mundo empresarial, das instituições religiosas aos campos da cultura, arte, ciência e tecnologia. Afinal, em construção está a paz que é tão preciosa para a sociedade. E essa construção é uma obra de justiça e de amor.

O compromisso com a justiça é caminho que leva ao integral restabelecimento da ordem moral e social, tão ferida. Diz o profeta Isaías, apontando caminhos novos para o povo, que a paz é obra da justiça. E há de se reconhecer que a justiça é uma virtude moral, a garantia legal que vela sobre o respeito a direitos e deveres. Essa virtude é enfraquecida quando posturas ideológicas contaminam interpretações, pessoas passam a considerar somente o que interessa aos seus próprios grupos. Por isso, importante e urgente é fazer com que a prática da justiça seja mais abrangente. Ultrapasse a dinâmica comum aos tribunais para se tornar compromisso cotidiano de cada cidadão. Quando atitudes – simples ou com impacto mais amplo no contexto social – são pautadas pelos parâmetros da justiça, há uma efetiva contribuição para o restabelecimento da ordem social e política que equilibra as relações de um povo.

O brasileiro convive com uma lista enorme de metas e compromissos a serem efetivados. Entre as necessidades, está a urgente responsabilidade de debelar a miséria. Essa situação triste e tantas outras igualmente lamentáveis são produtos da injustiça, alimentada pela ganância sem limites e pela mesquinhez. Combater a pobreza é, pois, um compromisso determinante que precisa da força da justiça – capaz de equilibrar o exercício de direitos e deveres.

Somente a justiça, instrumento para a construção da paz, pode reconfigurar fundamentalmente as posturas que geram desequilíbrio social e submetem grande parte da população a agressões à sacralidade da vida humana. Assim, a inteligência normativa que busca garantir o funcionamento justo da sociedade precisa ser fecundada pela lucidez de princípios sólidos, não imediatistas e utilitaristas. Investir na justiça é imprescindível para a conquista da paz.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte


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